Archive for junho, 2005

Defensor da moral e dos bons costumes

junho 6, 2005

Acontece nesta semana a inauguração da nova Daslu, apenas para convidados. A programação não é exatamente divertida e conta com a presença de uma tal “Orquestra Daslu” tocando clássicos da bossa nova.

Aproveitando o gancho, Carta Capital critica a loja com bom gosto, ironia e inteligência. Não estou mentindo. De qualquer forma, acabo lendo coisas como “nova Daslu é um ato de violência”, dito por Marcelo Yuka (quem?) em entrevista ao UOL.

“Essa nova Daslu que está sendo inaugurada em São Paulo, por exemplo, é um verdadeiro ato de violência. É um shopping feito da elite para a elite, um totem da má distribuição de renda”, disse o ex-baterista do Rappa. Acho que um ato de violência é ele aproveitar sua deficiência física para aparecer na mídia, como tem feito desde que se tornou paraplégico, atacando aquilo que lhe convém e traz audiência.

É fácil criticar o que nos parece imoral ou anti-ético, pois a moralidade e a ética são coisas extremamente pessoais, baseadas em conceitos e credos culturais, religiosos e filosóficos. Da mesma forma que alguém pode acreditar na imoralidade da Daslu (ou do Iguatemi, ou da Oscar Freire, ou das praias particulares, ou dos apartamentos de 10 milhões da Vila Nova Conceição), pode também acreditar na imoralidade do pensamento da pessoa pretensamente moral.

Quando temos, na mídia, exposição das vidas ricas e de esbanjamento, surgem pessoas indignadas com o fato de “haver tantos pobres no país e esses burgueses gastarem sua fortuna com luxos”. Há pouco tempo a revista Exame deu matéria de capa para o fato da maioria dos brasileiros acreditar que a prioridade das empresas deveria ser ajudar a comunidade direta ou indiretamente ao invés de lucrar. Um ser consciente sabe que o objetivo principal da firma é o maior lucro possível.

Custo a acreditar que são todas pessoas de bom coração e que, se pudessem, doariam parte considerável de seu patrimônio a instituições de caridade e ajudariam os pobres e oprimidos. Creio que, mesmo não tendo muito, poderiam doar já o que têm e entrar para alguma ordem religiosa, pois são pessoas cujo único sonho é o mundo igualitário e bom para todos, onde não haveria ricos, mas apenas uma sociedade nivelada por baixo. Os abonados são a personificação do mal e a riqueza tem de ser constantemente justificada.

Esses indignados agiriam da mesma forma se tivessem a renda e condição dos 40000 consumidores cadastrados na Daslu? Aposto que se não, diriam que foram corrompidos pelo odioso sistema.

Mais sinais

junho 5, 2005

Assim como também são sinais da mudança dos tempos a torta de morango do Bob’s, que em mais um surto nostálgico, tem uma consistência que remete à geleca, e um sabor misto de amido com protetor solar. Ou o trio elétrico que atravessa a avenida paulista munido de um projetor e vocoder, atormentando os pobres seres humanos que bebiam cerveja no bar da calçada.

Da mudança do mundo

junho 5, 2005

A simbiose das coisas comprova os novos tempos que se aproximam: na semana passada, a calçada da Nossa Caixa na av. Paulista explodiu. Um rio de água antes encanada vertia por entre as pedras e, ao se misturar à terra, transformou a pista Paraíso-Consolação num mar de lama. Uma mulher foi salva na garupa de um motoqueiro que ferozmente a salvou da morte certa. O metrô foi inundado. O caos tomou conta da região em pleno horário de almoço. São sinais.

Uma breve viagem

junho 5, 2005

Óquei, a porra da pós-modernidade ta indo embora e a gente não sabe pra onde raios nossa sociedade está indo. O pop de hoje não é mais o pop de outrora. Ok, a Madonna continua sendo a diva para muitos, mas há algum tempo os ícones são tão inconstantes como minha conta bancária.

O fato é que a internet é uma ferramenta importantíssima na criação de novas celebridades-relâmpago, que vão desde mulheres gagas até criaturas que montam em felinos. Mas isto não é perene, não é suficiente. A sociedade de consumo precisa ser abastecida por uma nova força pop que, aliás, vá além de ícones trash que povoaram nossas infâncias. Por isso temos certeza de que festas de música trash são subterfúgios baratos para preencher a necessidade de um ícone forte.

Bobagem. Estes ícones são do passado, não têm vigor para serem cultuados nos dias de hoje, sobrevivem às custas da nostalgia. Por isso, utilizaremos este espaço para elevar celebridades aparentemente com menor brilho em meio ao falido show business ao status de semidivindades de uma nova era da humanidade.

Razões e motivos

junho 5, 2005

Cissa foi uma escolha muito pensada. Sim, ela é pagã, polar e quente. Queríamos alguém que justificasse e resumisse um pouco de tudo pelo que o mundo está passando e encontramos em sua figura a mais perfeita tradução. Talvez ela não seja moderna e, por isso, os modernos não concordem com nossa escolha. Além do quê, ela é parte do establishment e participa de “América” — o que mostraria que não está pronta para o futuro. Nós não acreditamos nisso e fizemos uma aposta de longo prazo.