Archive for fevereiro, 2007

Amazon não é mais a mesma

fevereiro 27, 2007


Paris = Radiohead? Clique e veja.

Twin Peaks

fevereiro 22, 2007

Em 1990 estreava na TV americana o seriado de suspense Twin Peaks, em que a garota mais popular da high school de uma pacata cidadezinha é encontrada morta embrulhada em sacos plásticos à beira do rio. Mais do que apenas um seriado, era o precursor de outras séries de investigação de grande sucesso, tais como Arquivo X ou CSI, e trazia uma marca inconfundível: foi criada e dirigida por um dos diretores mais excêntricos de Hollywood: David Lynch, famoso por seus filmes que parecem não ter nem pé nem cabeça. Cheia de intervenções oníricas e de linguagens obscuras e pouco lineares, sua obra traz grandes títulos que até hoje gera multidões de fãs e de odiadores, como Veludo Azul, A Estrada Perdida, Mulholland Drive e INLAND EMPIRE, obra mais recente e que logo mais está chegando aos cinemas.

Ao contrário dos filmes, Twin Peaks apresenta mistérios muito mais voltados para as tramas que se enrolam e desenrolam ao longo dos episódios, do que para as pirações características do diretor (que apesar de serem em pequena quantidade, ainda existem e fazem toda a diferença). Isso acaba tornando a série mais didática e de fácil digestão, mas ainda assim seu estilo é facilmente perceptível (com direito inclusive a trilha sonora de Angelo Badalamenti, o grande responsável por boa parte do clima sombrio de tudo o que Lynch faz).

Ao longo dos oito episódios (incluindo o piloto de 1h30 de duração), a história vai muito além do misterioso assassinato de Laura Palmer: vão sendo reveladas tramas obscuras que envolvem prostituição, sociedades secretas, tráfico de drogas, crises familiares, especulações imobiliárias, adultérios e romances em segredo.

Mas o melhor da série não está necessariamente no suspense: para mim, está na composição dos personagens, em sua maioria excêntricos e construídos com sutileza e muito bom humor. O protagonista é o agente especial do FBI Dale Cooper, que utiliza métodos muito pouco ortodoxos para realizar suas investigações. Juntam-se a ele nas investigações os policiais locais que, de tão pacata que é a cidade, não estão acostumados com casos das proporções dos acontecimentos recentes, o que os torna hilários. Há ainda personagens secundários fantásticos, como a mulher caolha obcecada em fazer com que os trilhos de suas cortinas sejam 100% silenciosos, ou ainda a enigmática senhora que aparece o tempo todo abraçada a um tronco de madeira, e que abre cada episódio com uma introdução filosófica.

Esta primeira temporada de Twin Peaks (a única lançada no Brasil em DVD) é obrigatória para quem gosta ou deseja conhecer um pouco mais sobre o universo do diretor David Lynch. E para os que não gostam, é uma oportunidade para conhecer um Lynch menos hermético e bem mais sarcástico e divertido. Mas é bom já se preparar para uma temporada que termina com muito mais perguntas do que respostas, marca registrada do trabalho do diretor.

A rainha

fevereiro 12, 2007

Gosto muito de tramas políticas. Sou fã, por exemplo, de “The West Wing”, a série que se passa nos bastidores da Casa Branca. Na mesma linha, “A rainha”, de Stephen Frears, mostra o que aconteceu (ou deve ter acontecido) no Palácio de Buckingham nos dias que se seguiram à morte da princesa Diana.

A rainha Elizabeth II decidiu que o governo não se envolveria com o caso pois Diana não era mais membro da família real. Além disso, tratava-se de um assunto delicado que precisava ser tratado apenas pelos parentes dela. Todos também sabemos que a amizade das duas não era exatamente forte.

Elizabeth passava por um momento complicado de seu reinado. Pela primeira vez em vários anos um trabalhista estava chegando ao poder: Tony Blair tornava-se primeiro-ministro com idéias pouco ortodoxas para o establishment britânico e, além disso, sua mulher é uma conhecida anti-monarquista. A morte do nome mais popular da realeza não poderia ser pior.

Apegada às suas crenças, a rainha vai para um castelo longe de Londres com marido, mãe e netos. Blair decide falar à nação em nome do Parlamento e torna-se mais popular que antes. Elizabeth tentava não acreditar que o povo realmente estava se importando tanto assim com a princesa.

A mensagem não foi captada com velocidade por Sua Majestade. Ou talvez até tenha sido, mas as instituições a levaram a mascarar essa idéia. Temos então o conflito do filme entre Elizabeth e Blair. Ele aparentemente tentava ajudar a monarquia enquanto ganhava o bônus de se mostrar de acordo com os desejos do povo.

Provavelmente esse é o ponto mais interessante do filme, pois a imagem que temos da rainha é de uma pessoa forte, decidida e que passa por cima de todos os obstáculos sem maiores problemas. Na produção, ela é mostrada então como uma pessoa normal, que tem de resolver problemas levando em consideração desde o histórico secular da monarquia até as ânsias do povo.

Me lembro bem que naquele dia a notícia foi dada com ênfase até do outro lado do oceano, no Brasil. Salvo engano, havia um jogo de futebol na Globo e Galvão Bueno (veja só) anunciou, quase com lágrimas nos olhos, a morte de Diana. Ela sempre tinha sido um fenômeno midiático e agora tornava-se praticamente uma figura santa.

Diálogos do cotidiano

fevereiro 11, 2007

– Esse prédio é muito simétrico. Você sabia que no barroco tudo sempre muda um pouco pra não cansar a vista?
– O Tom Cruise, a Monalisa e aquele cara da revista MAD também são simétricos.
– Se o Tom Cruise fosse mais barroco, você não ia se cansar de olhar pra ele.

Eu prometo

fevereiro 9, 2007

Eu prometo que assim que arranjar uma nova casa, volto a escrever com regularidade. Tenho alguns filmes pra comentar… Pra variar.

Cleide, Eló, Pêras, Aldeotas e Gero Camilo

fevereiro 4, 2007

Existem certas obras que parecem ser feitas de veludo. São filmes, músicas, peças teatrais e livros que te fazem viajar, se sentir tocado, mergulhar em emoções, introspecções e sentimentos que normalmente não sentimos com outras obras. No cinema é relativamente comum encontrar filmes que causem esta sensação, e que facilmente entram nas coleções de DVD, e que podem ser eternamente revistos.

Já a efemeridade do teatro muitas vezes nos impede de descobrir estas pequenas pérolas, sobretudo quando a divulgação é menor, ou quando estas pérolas não são produzidas por núcleos consagrados (sim, até mesmo fora do circuito do teatrão existem nichos e mainstream). E ainda por cima, ao contrário das músicas, filmes e livros, a possibilidade de revivals no teatro só existe em casos de remontagens e novas temporadas.

No final de 2006 estava em cartaz no histórico TBC uma dobradinha de peças do ator e dramaturgo Gero Camilo: Cleide, Eló e as Pêras e Aldeotas. Dois espetáculos para os quais eu não daria prioridade na hora de escolher o que assistir – e que de fato não dei no ano passado. Mas os elogios que ouvi da peça, por parte de diversas pessoas, me fizeram mudar de idéia, mas foi tarde demais: a temporada já havia acabado. Felizmente e para a minha sorte, ainda não era hora dos espetáculos serem engavetados, e neste ano reestrearam no Espaço Parlapatões, na praça Roosevelt, onde estão em cartaz.

Cleide, Eló e as Pêras é uma grande obra. É uma história de amor vista sob a ótica dos dois personagens do título, a costureira Cleide e o vigia Eló. A dramaturgia de Camilo passa a anos-luz de distância das pieguices que se imagina com este enredo. É um misto de teatro com poesia, sem aquele típico compromisso irritante com o racionalismo e a obviedade que as histórias de amor costumam apresentar. É uma história de amor contada pelo coração (ok, isso foi piegas).

Em cena, apenas uma cadeira vermelha e algumas pêras que fazerm parte do diálogo entre os dois personagens. Primeiro vem o monólogo de Cleide sobre Eló, interpretada com uma emoção comovente pela linda Paula Cohen. Depois é a vez do monólogo de Eló falando sobre Cleide. Gero Camilo, ator baixinho, magrinho, é um espetáculo à parte, automaticamente ganha o coração de toda a platéia com tanta poesia sendo falada com tanta paixão. Em seguida vem um diálogo que encerra o espetáculo e a platéia sai do teatro em estado de graça.

E se este espetáculo era uma grande obra, Aldeotas não merece classificação menor do que a de obra-prima. Seu subtítulo, desenho feito a lápis sobre tela branca, traduz um pouco a sensação de veludo que eu imagino em torno do espetáculo. Com a mesma poesia e beleza do outro espetáculo, este conta as lembranças de Levi a respeito de sua infância e adolescência em sua cidade natal, e de sua relação com seu melhor amigo, Elias. Tamanha nostalgia não é apresentada em forma de tristeza e nem de alegria, é apresentada com uma inocência que torna impossível não se apaixonar por aquela cidade, por aquelas histórias fantásticas, por aqueles personagens.

Com um trabalho corporal absolutamente fantástico, Gero Camilo e Marat Descartes transformam o único elemento cênico presente, um tapete branco, em quarto, açude, formigueiro, centro da terra. E o público embarca sem receio nesta viagem, boquiaberto e deslumbrado por tamanha beleza e sensibilidade. A fraternidade e cumplicidade dos personagens, as descobertas, desejos, revoluções pessoais e sobretudo seus sentimentos são contados de uma forma tão bem-humorada e tão sincera que não queremos que o espetáculo acabe nunca, não queremos que a poesia termine.

Com estes dois espetáculos Gero Camilo se mostra um artista brilhante: um ator habilidosíssimo com uma das perfromances mais marcantes que já vi em um palco, e um dramaturgo que, com sua texto despretensioso e inocente, consegue trazer ao espectador um estado de deslumbramento raro.

Recomendo com todas as forças e do fundo do coração.