Uma semana de ansiedade depois de ter visto A Terra, ontem finalmente foi a vez de O Homem I, segunda parte da encenação do livro Os Sertões de Euclides da Cunha, realizada pelo Teat(r)o Oficina Uzyna Uzona e dirigido por Zé Celso.
Semana passada eu achava que o Oficina era a experiência teatral mais visceral que eu já havia visto na vida, e ontem tive certeza absoluta disso. Eu precisava ver pelo menos mais um espetáculo para confirmar, de preferência um que não narrasse apenas a geografia do sertão brasileiro, e o que eu vi ontem já foi suficiente. Mais que isso, é o suficiente para passar mais uma semana ansioso para ver a próxima parte e para ter certeza de que eu terei pique para assistir a epopéia euclideana até o fim.
Mais uma vez o gigantesco elenco nos surpreendeu logo na entrada. Esperando que, assim como na semana passada, fôssemos recebidos lá na rua por uma espécie de escola de samba, estranhamos quando os seguranças nos pediram para formar uma fila. Ao passar pela porta, a surpresa: o teatro inteiro, elenco e público, brincando de roda, cantando Ciranda Cirandinha. Mal entrei e uma pessoa do elenco já estendeu o braço, puxou a minha mão e, em questão de poucos segundos, lá estava eu atravessando a gigantesca passarela do Oficina cantando, dançando e brincando de roda até chegar até o lugar onde queria me sentar.
Um pouco menos alegórico, um pouco mais ilustrativo e narrativo, O Homem I fala sobre o surgimento do povo brasileiro, da mistura dos europeus, índios e negros, em uma sintetização excelente da história da colonização brasileira. Além disso, nos transporta para a realidade do Brasil sertanejo, das crenças populares, das festas regionais, de um mundo que sabemos que existe, achamos que conhecemos mas que a maioria de nós tem certeza de que nunca verá pessoalmente. Para mim, o ponto máximo foi a grande festa sertaneja com direito a dança, pinga e competições.
Em suma, sempre ouvia as pessoas dizerem que as muitas horas das peças do Oficina passavam rápido, e eu nunca acreditava, mas ontem as cinco horas de espetáculo realmente passaram como se não fossem muito mais que uma hora. E o que mais me deixa impressionado é o brilhantismo, a precisão e a grandiosidade de tudo, é necessário um talento e uma dedicação absurdos para adaptar, produzir e dirigir algo tão megalomaníaco, com tantos atores, tantas histórias, tantos detalhes e tantas nuances, e sempre com tão grande qualidade e de uma forma tão atraente, tão apaixonante. E José Celso Martinez Corrêa consegue fazer este teatro de uma forma sublime. E isso é uma das maiores provas de que aquele velho maluco é um gênio.
E no fim de semana estarei lá de novo para O Homem II…