Archive for maio, 2006

Crime e castigo

maio 31, 2006


Não conheço a filmografia e a história de prêmios dos irmãos Dardenne, diretores de “A Criança”, vencedor da Palma de Ouro em 2005. Pelo que li por aí, parece ser necessário ter visto os outros filmes dos dois para compreender este último. Bobagem. Nesse caso você aprenderia a falar sobre o enquadramento das cenas ou a fotografia, destaques técnicos.

É quase uma fábula, daquelas que terminam com lição de moral mas, atenção, eu disse “quase”. Bruno, 20 anos, é o que podemos chamar de mendigo belga, se isso existir. Sua namorada, Sonia, 18 anos, acaba de ter um filho, Jimmy. Os dois vivem juntos no apartamento dela, às vezes fugindo para um esconderijo próximo ao rio e às vezes (no caso de Bruno ter alugado o apartamento de Sonia sem autorização) num albergue.

Parece que o jovem não caiu na real e de certa forma ignora a presença do filho. A garota é mais madura e demonstra muito carinho pela criança. De qualquer maneira, os dois agem como um casal adolescente com suas brincadeiras e infantilidades.

Adepto de espertezas, Bruno vende Jimmy no mercado negro com a mais bela da intenções: arranjar dinheiro. “Podemos fazer outro”, disse, se referindo ao filho. Ele realmente acreditou que Sonia gostaria da idéia mas ela não, não simpatizou com a possibilidade.

Exemplos de discussões possíveis: a situação dos jovens na Europa, a situação dos jovens no mundo, a influência do meio nas pessoas, o poder do dinheiro etc. Há uma série de coisas que podemos pensar ou comentar sobre esse ótimo filme. Durante a projeção eu imaginei uma porção delas e certamente a mulher atrás de mim, que ficava fazendo barulhos e soltava uns “oh, não acredito”, também teve lá suas idéias.

Diálogos do Cotidiano

maio 29, 2006

– Eu tenho uma dúvida. Pra que serve esse saquinho azul aqui?
– Onde você pegou isso?
– Lá no banheiro. Tinha o negócio de papel higiênico, os protetores de vaso sanitário e esses saquinhos azuis. Não sabia pra que servia e peguei uma amostra…

Os três homens que estavam no carro ficaram se questionando sobre pra que serviria, até que a única mulher presente se manifestou.

– Nos banheiros femininos têm esses saquinhos para colocar absorvente… Mas… peraí, em qual banheiro você entrou?
– O do fundo do corredor.
-Mas aquele era o feminino!
– Claro que não! Tinha M na porta, de masculino!
– Hahahahaha… Era M de mulher!!! Você nem achou estranho ter uma propaganda de desodorante feminino lá dentro?

Uma noite e uma tarde, dois filmes

maio 28, 2006

X-Men: O Confronto Final

Aproximadamente 672 personagens aparecem na trama — alguns durante meio segundo. Fãs inconseqüentes são um saco. “X-Men” sempre me ajuda a lembrar da infância e por isso gosto. Só por isso.

Rent – Os boêmios

Deveria ser lei: peças em geral, musicais em particular, são proibidas de virar filme. Essa aqui em questão era muito legal no palco e ficou cansativa nas mãos do Chris Columbus. Alguns momentos foram constrangedores e a tradução era horrível. Que o diga a frase “queimei minha mão com esparmacete”.

Sai Fátima, entra Verinha (em versão junino-revolucionária)

maio 27, 2006

Ainda é cedo

maio 26, 2006

Que porra de foto é essa?Esta semana me deu vontade de desenterrar algum CD que eu não ouvia há muito tempo e ir para o trabalho ouvindo. Vasculhei minha coleção cheia de pó graças ao MP3 e desenterrei Mais do Mesmo, a coletânea dos maiores sucessos da Legião Urbana. Sempre que alguém me perguntava se eu gostava de Legião, eu respondia que tive uma fase, especificamente entre os 14 e os 16 anos de idade, que eu adorava, mas que depois eu comecei a enxergar que aquilo não era tão grandioso assim. Pois bem, continuo afirmando que trata-se de uma banda “overrated”, de letras ingênuas e melodia fácil, mas não vejo mais a carga pejorativa que via antes.

Se batermos e coarmos a obra de Renato Russo & cia, teremos muito, mas muito bagaço pra jogar fora. Rimas forçadas, letras mal-acabadas, melodias fáceis demais, mensagens baratas em lugares errados, voz desafinada, enfim, a obra é repleta de equívocos. Existem historinhas ingênuas e bonitinhas, como em Eduardo e Mônica, engajamento rebelde de boutique, como em Geração Coca-Cola, lições de moral, como em Dezesseis, e até mesmo auto-ajuda, como em Pais e Filhos, mas apesar disso tudo, cheguei à conclusão de que ainda é um trabalho que não devo deixar apenas na memória de meus 14 anos.

Dos 16 para cá, naturalmente comecei a ler coisas mais densas, assistir a filmes mais complexos, ver peças teatrais mais profundas, ouvir músicas mais elaboradas e experimentais, mas às vezes sinto um pouco de falta daquela ingenuidade que hoje percebo que não era ruim, ou ao menos não tão ruim. Pelo contrário, percebi que as pessoas ainda gostam da Legião porque não apenas decoram facilmente seus hinos adornados por sua bateria pesada, que impõe seu ritmo como um instrumento de protesto involuntário contra o mundo pós-moderno. E também não é porque elas admiram a sabedoria rala e prepotente de Russo (embora exista muitas pessoas que realmente o idolatrem, infelizmente).

As pessoas ainda ouvem e ainda gostam porque ainda se identificam de alguma forma com essa ingenuidade, com esse libertarismo. Isso porque ainda não aprenderam a viver plenamente na pós-modernidade, e porque esses hinos de letra fácil e coração aberto são um refúgio do mundo desgovernado que criamos. Um dia talvez saiamos dessa toca, mas enquanto isso, muita gente ainda vez ou outra voltará para casa sozinho em seu carro cantando em voz alta canções como Eu Sei e Há Tempos enquanto espera no congestionamento, como eu fiz essa semana. E isso não terá feito mal nenhum, embora não tenha feito nenhum bem também.

Market Watch

maio 25, 2006

Capa da revista Você S/A de maio traz a manchete “Ganhe Dinheiro na Bolsa”. O texto ainda diz mostrar “Tudo o que você precisa saber para começar a investir agora e ganhar dinheiro na bolsa. E mais: as 100 melhores ações do pregão”.

Um grande investidor americano chamado Joseph Kennedy estava engraxando seus sapatos na porta da Bolsa de Nova York. O engraxate estava especialmente feliz naquele dia. Kennedy perguntou qual a razão de tamanha euforia e ficou sabendo que o jovem estava investindo em ações.

Nosso querido investidor foi até seu corretor e pediu que ele enviasse ordens de venda para o pregão. “Se até um engraxate está investindo na bolsa é porque alguma coisa está errado”, disse nosso amigo previnido.

Dias depois os Estados Unidos mergulharam naquilo que chamamos “Crise de 29”.

Duas noites, dois filmes

maio 21, 2006

O Código Da Vinci

Em Cannes, riram. No New York Times, não recomendaram. Pois eu não achei “O Código Da Vinci” um filme tão ruim como foi pintado pelos críticos. Acho que tivemos aí um pouco de má vontade, aquela coisa de ter sido baseado num livro reconhecidamente ruim, etc. Porque convenhamos: o livro não é uma obra-prima literária. Não passa de uma receita de bolo e, mais interessante, altamente cinematográfica.

Ao lê-lo, eu imaginei as cenas como num filme. O texto tem muita ação, perseguições, reviravoltas… Todas essas coisas que a gente vê e gosta numa produção de ação e/ou suspense. E é bizarro que o maior lançamento do ano não tenha nenhum pouco de ação e/ou suspense. Tá, na verdade tem duas ou três cenas com mais emoção, mas pára por aí. Tem-se muito didatismo, cenas um tanto estranhas em flashback e muitas conversinhas para os não-iniciados.

Também esperava mais imagens sensacionais de Paris e Londres. As duas cidades são bonitas e o filme é locado em lugares tão simbólicos que não poderia ser diferente. É, foi diferente. A cidade-luz é mais bem ilustrada em “Antes do Pôr-do-Sol” e ouso arriscar que a capital inglesa aparece mais nos “Harry Potter”. Concluo que “O Código…” é para ser visto uma vez, ou talvez duas, pra relembrar daqui a 10 anos.

Herencia

Enquanto o Mombojó tocava no Sesc Pompéia, saí de lá em direção ao Reserva Cultural para ver algo em plena madrugada. Esses dois lugares estão entre os vários que participaram neste fim-de-semana da Virada Cultural, aquele evento baseado nas Noites Brancas parisienses.

(Confesso que fiquei surpreso com o numeroso público em ambos lugares que visitei. Não esperava que muita gente decidisse sair de casa com a temperatura próxima dos 15ºC pra passar a noite em claro vendo peças e filmes ou simplesmente tomando sereno e conversando.

No Sesc houve mini-apresentação de “A Noite Antes da Floresta”, já comentada aqui no Coletivo, shows e uma exposição interativa que em certo momento serviu pra nos brindar com menos 50 anos de terapia. No Reserva ouvíamos umas coisas meio brasileiro-étnico-macumbáticas enquanto tomávamos café ao lado do cara das Casas Bahia — “quer pagar quanto?!?”)

Depois de muito discutir pra escolher um título, vimos “Herencia”, um argentino “em pré-estréia”. Qual não foi minha supresa ao descobrir que esse filme é de 2001… Fala sobre a busca: por alguém, pelo amor, por um sentido na vida. Tem certos clichês, mas o resultado final é bom.

Luzes em mim

maio 18, 2006

O Ministério Público Federal de São Paulo (MPF-SP) anunciou uma série de ações contra a subsidiária brasileira da americana Google, líder no mercado de buscas na internet. O problema concentra-se no Orkut (…)

A grande popularidade atraiu pessoas interessadas em utilizar o Orkut para realizar ações ilícitas, como propagar mensagens racistas e divulgar fotos e vídeos de pedofilia. Isso levou o MP e a Polícia Federal a requisitar a quebra do sigilo telemático dos responsáveis pelas páginas com conteúdo ilegal. O Google, no entanto, recusa-se a liberar os dados alegando que segue as leis americanas de proteção de privacidade dos usuários de seus serviços. (…)

Segundo Karen Louise Jeanette Kahn, procuradora do MPF-SP, caso o Google continue a ignorar a ordem de abrir o sigilo de seus usuários o MP requisitará a desconstituição da pessoa jurídica do Google no Brasil – o que poderia obrigar a empresa a retirar suas operações do país. “Se permanecer essa posição arrogante de recusa [em cumprir as ordens judiciais], vamos ter de requerer essa medida”, disse a procuradora. (…)

Em comunicado enviado à imprensa, o Google afirma que o Orkut é um serviço cuja operação está fisicamente baseada nos Estados Unidos e Reino Unido e que a subsidiária brasileira é “um escritório de vendas que nada tem a ver com as operações do Orkut, não tem acesso às suas informações e não tem controle sobre o serviço”. (…)

O MP, entretanto, não concorda com os argumentos da empresa. Karen afirma que a subsidiária brasileira de qualquer companhia deve se submeter às leis nacionais. “Esses crimes são praticados no território brasileiro, por brasileiros e atingem brasileiros”, diz. “Queremos que a operação do Google no país siga a nossa regulamentação – e nenhuma outra.”

Essa matéria me fez pensar muito numa coisa: o Brasil é o único país do mundo em que os defensores da população pensam assim. Ou eu deveria dizer que é um dos países em que eles gostam de aparecer na mídia?

Avenida Dropsie

maio 17, 2006

(…) Aceite um conselho: entre num avião, tome um ônibus, suba num trem, pegue uma bicicleta, faça qualquer coisa, mas vá até São Paulo e assista a “Avenida Dropsie”, de Will Eisner, o tal novo espetáculo de Felipe Hirsch.
Vencida esta primeira etapa, não está garantido que você entre no teatro. Como toda produção do Teatro Popular do Sesi, “Avenida Dropsie” tem ingressos gratuitos. Então, é preciso chegar ao teatro algumas horas antes de começar a sessão, aguardar numa fila e, quando enfim os bilhetes forem distribuídos — 60 minutos antes da hora marcada para a peça se iniciar — torcer para que sobre algum para você. Mas vale a pena. “Avenida Dropsie” é um dos espetáculos mais impactantes dos últimos anos no teatro brasileiro. (…)
– Artur Xexéo, tirado daqui.

A Sutil Companhia de Teatro é na minha opinião uma das mais sólidas e marcantes da atual cena teatral brasileira. Avenida Dropsie, sua última produção, que ficou por meses em cartaz no Teatro Popular do SESI ano passado, inclusive com direito a prorrogações e a quase todas (se é que não foram realmente todas) as seções esgotadas, é o exemplo mais que perfeito de que é possível agradar a todos os públicos ou a quase todos. Uma adaptação para os palcos das graphic novels de Will Eisner, a peça é um panorama bem-humorado e melancólico sobre a vida nos grandes centros urbanos. Para ajudar a tornar o espetáculo inesquecível, a cenografia de Daniela Thomas e a iluminação ganhadora do Prêmio Shell são fundamentais.

Após o estrondoso sucesso do ano passado, semana passada a peça reestreou em uma curta temporada no Teatro Alfa, com parte do elenco original, e com alguns nomes novos. Não sei se é por eu ter perdido a conta das vezes que eu vi a peça lá no SESI e já estar acostumado com o elenco, mas os novos atores, que eram muito bons, ainda não pareciam totalmente familiarizados com os mais de 200 personagens da peça. Senti falta, por exemplo, do olhar expressivo da Magali Biff e do carismático bêbado interpretado pelo Joelson Medeiros. Percebi também que, sobretudo no começo da peça, a equipe de luz e som ainda não estavam tão afinadas com a peça: algumas trilhas e algumas luzes demoraram um pouco para se acender, etc. Mas sabemos que se trata de um processo natural de adaptação. E quem não viu a peça tantas vezes como eu nem percebe esse delay, e esses detalhes acabam interferindo pouco na altíssima qualidade do espetáculo.

Mas a principal diferença que eu pude perceber não é com relação à montagem em si, que apesar destes pequenos detalhes, continua deslumbrante. A maior das diferenças eu percebi no público. Enquanto no Teatro Popular do SESI a platéia era sobretudo composta por jovens que passavam a tarde inteira na fila para conseguir assistir à peça gratuitamente, o público do Teatro Alfa é, como era de se esperar, de pessoas de uma faixa etária maior, com um poder aquisitivo mais alto e que comprou seus ingressos com a comodidade da venda por telefone (aliás, ponto positivo para o Alfa, esse serviço é muito eficiente e prático). Enquanto lá na Paulista, mesmo quando a sessão esgotava, as pessoas ainda sim faziam fila para tentar conseguir o lugar de alguém que eventualmente desistisse, no Alfa menos da metade da platéia estava tomada. Claro que o preço do ingresso, a inacessibilidade do Alfa e o fato de ser dia das mães interferiram, mas mesmo assim é muito triste uma peça como essa ser “desperdiçada” com tantos lugares vazios.

Diferente também é a forma como a platéia reage à peça. Na Paulista, vou mais uma vez citar um trecho do Artur Xexéo: “(…) A platéia adere ao espetáculo com entusiasmo. Na noite em que assisti à peça, o público aplaudiu em cena aberta duas vezes. E no fim emitia urros que a gente pensa só ouvir em shows de rock. (…)“. Isso é muito verdade, a coletividade da platéia do SESI é contagiante, as cenas engraçadas da peça tornam-se ainda mais engraçadas, os aplausos no final são sinceros, empolgados e empolgantes. Juro que quando vejo um bom espetáculo ser ovacionado merecidamente, me emociono muito. No Alfa, quando apareceu a assinatura de Will Eisner, eu comecei a aplaudir sozinho e segundos depois, apenas quando as luzes se acenderam exibindo o elenco, o restante da platéia começou a aplaudir, de uma forma que me pareceu fria e distante. Esta foi a única vez que não saí desta peça emocionado, mas sim um pouco deprimido.

Dicas culturais preguiçosas

maio 17, 2006

Três peças em cartaz que eu recomendo e que estou com preguiça de resenhar:

– De Profundis (não, não é escrita pelo Mussum)
– O Anjo do Pavilhão Cinco
– Otelo da Mangueira