Archive for janeiro, 2007

Diálogos do Cotidiano

janeiro 28, 2007

– Você realmente gostou da banda?
– Não!
– Então por quê você tá aplaudindo?
– Vixe, eu aplaudo tudo… Peça de teatro, show, filme em festival…
– Mesmo quando não gosta?
– Sim! Eu aplaudo até o planetário!

Marcas marcantes

janeiro 26, 2007


Uma pena que o reflexo acabou ficando em cima do nome, mas acho que isso é apenas porque o café Celebrities by Amaury Jr. emite luz própria.

Cheira mal

janeiro 25, 2007

Tom Tykwer filmou o pop “Corra Lola, corra” e fez muito sucesso. Ele é conhecido basicamente por isso, mas vendo seus outros filmes, percebemos que é um diretor interessante. “Perfume: A história de um assassino” é sua pior obra e espero que ele não desça mais que isso.

Não li o livro de Patrick Süskind, no qual o roteiro foi baseado, e fiquei com pouca vontade depois de sair do cinema. Ok, é difícil traduzir cheiros para a tela e nossa mente é muito boa em imaginar essas coisas. Uma amiga me disse que a história impressa é boa e não duvido, mas tenho medo de ler.

Talvez o roteirista tenha feito escolhas ruins… Não sei. Tykwer tenta se apoiar nas cores, essas sim belíssimas, mas não consegue fazer algo mais que ruim. Ver os poros do nariz de Ben Whishaw não foi divertido e o final é desastroso. Se o livro também termina daquele jeito, acredito que o autor tenha passado alguma lição de vida.

O personagem de Whishaw é trágico e entender o que é sua vida (e, de certa forma, a razão que o levou a matar mulheres para extrair seu perfume) torna o texto muito bonito. Com boa vontade eu também entendi o que estava por trás da narrativa, mas filmado mais pareceu uma comédia do pior tipo.

“O perfume” me ajudou a perceber duas coisas: 1. críticos geralmente têm problemas em criticar diretores aclamados por eles mesmos, 2. deus ex machina rende um post separado.

A Casa dos Budas Ditosos

janeiro 25, 2007

Quinta-feira passada, ao final dos merecidos aplausos para mais uma apresentação de O Avarento, Paulo Autran pediu um segundo a mais da atenção da platéia para recomendar A Casa dos Budas Ditosos, monólogo interpretado por Fernanda Torres e que atualmente divide o mesmo palco do Teatro Cultura Artística com o espetáculo de Autran.

Muito mais do que política de boa vizinhança, o ator estava indicando uma das obras mais libertárias dos últimos tempos. O espetáculo adaptado do livro homônimo de João Ubaldo Ribeiro conta a vida sexual de uma mulher de 68 anos que viveu sua vida inteira em função do prazer, sem nenhum pudor.

Ao sair da sala, ouvi um casal saindo e comentando sobre este espetáculo:

– Fulano assistiu essa peça que ele indicou, e disse que é pornô.

Imediatamente comecei a rir. Como pode um espetáculo ser “pornô” se a protagonista fica as duas horas da peça sozinha, sentada em uma cadeira, apenas falando para a platéia, mostrando apenas as pernas do joelho para baixo? Intrigado com a definição, pesquisei a definição de pornográfico no Houaiss. Se for no sentido de “explorar o sexo tratado de maneira chula“, definitivamente a peça não é pornô. Agora, se interpretarmos como uma peça “que demonstra, descreve ou evoca luxúria ou libidinagem“, aí sim, é uma peça absolutamente pornográfica, no sentido menos pejorativo possível da palavra.

De qualquer forma, se o texto é considerado bastante avançado até mesmo para pessoas de mente mais aberta, é lógico que tudo aquilo que aquela senhora baiana conta só poderia soar como um escândalo agressivo aos ouvidos da classe média-alta paulistana que vai ao teatro para pagar dez reais numa taça de champanhe. As histórias que ela conta seriam suficientes para que muita gente saísse da sala logo nos primeiros 20 minutos de encenação.

Mas não é exatamente isso o que acontece (senão esta terceira temporada não estaria sendo prorrogada, e jamais estaria no palco do elitista Cultura Artística). Fernanda Torres se entrega de uma forma tão intensa à personagem, dando a ela um senso de humor e uma presença de palco tão impressionantes, que a platéia fica cativada do início ao fim do espetáculo, hipnotizada pelo relato fantástico daquela libertina.

Ontem assisti ao espetáculo pela segunda vez – a primeira havia sido no Centro Cultural Banco do Brasil. Apesar do teatrão de mais de mil lugares, o espetáculo continua fantástico. A transposição do relato para o formato de palestra faz ainda um pouco mais de sentido do que na primeira temporada, embora as luzes não se acenderem mais sobre a platéia e embora eu tenha sentido falta de ficar mais perto do palco, o que era possível até nos piores lugares do intimista CCBB.

E a platéia do Cultura Artística é um espetáculo à parte. Logo na entrada é possível observar, como de costume, hordas de velhinhas com roupas brilhantes, jóias aparentes, todas maquiadas e perfumadas, além de casais de todas as idades (curioso como o teatro comercial é um programa de casais e velhinhas…). Muitos estavam ali para ver especificamente aquela peça por ser um sucesso de bilheteria com uma atriz famosa da Rede Globo, e sobretudo por ser uma comédia. Perfil de público padrão do teatrão comercial.

Então o espetáculo começa, a personagem se senta em sua mesa e a platéia começa a se deliciar com as histórias extremanente bem-humoradas de sua primeira relação com um garoto na fazenda, seu desvirginamento pelo professor bigodudo, as peripécias que aprendeu com sua melhor amiga, Norma Lúcia… até o momento em que ela começa a falar de incesto. Primeiro ela fala do tio, a platéia estranha mas ainda se diverte, chegando a aplaudir em cena aberta a versão sexual que ela canta de Eine Kleine Nachtmusik de Mozart.

E eis que ela começa a falar de suas relações sexuais com o irmão Rodolfo. Por aproximadamente uns dez minutos a platéia fica no mais absoluto silêncio. Se as luzes estivessem acesas, certamente a atriz se divertiria com uma platéia inteira ruborizada, por alguns minutos intermináveis. Depois ela volta a falar coisas mais amenas e a platéia volta a gargalhar em sua zona de conforto, mas entre uma gargalhada e outra, ela solta alguma como “(…) porque toda mulher já deu o cu (…)”, e a platéia pudica reage com risadinhas abafadas e incômodas.

São essas freqüentes alfinetadas nos tabus que fazem da obra tão fantástica, com a sensibilidade de não agredir, apenas provocar – e muito. A platéia, queira ou não, é forçada a encarar diversos tabus sexuais que são extremamente fortes na nossa sociedade: monogamia, heterossexualidade, castidade, incesto… Fica a cargo da platéia se vai pensar e questionar seus próprios bloqueios, ou se vai simplesmente engavetar aquela peça junto com todas as porcarias que viu ali naquele mesmo palco e partir pra pizzaria em seguida.

Mas independente desta escolha da platéia, a arte já terá cumprido o seu papel com grande sucesso: o de provocar. Neste caso, de forma primorosa, com humor e muita elegância.

North american scum

janeiro 22, 2007

Um dos candidatos a disco do ano ainda nem foi lançado mas já está há semanas na internet. Bacana do começo ao fim, consegue ser tão bom quanto o disco de estréia da banda cujo líder é James Murphy, também um dos responsáveis pelo selo DFA Records. Tem rock, electro, dance, pianinhos, minimal e Kraftwerk. Das nove faixas, contei cinco ótimas e quatro muito boas. A dúvida é saber se alguma coisa vai mudar até o lançamento, em 20 de março.

Sai Simone, entra A Glória

janeiro 21, 2007

Afinal então não é mais natal.

Diamante de sangue

janeiro 17, 2007

O presidente Lula chegou à África e declarou que lá era “limpo” e que, por isso, nem parecia a África. Pois em “Diamante de sangue”, de Edward Zwick, Serra Leoa não é um lugar limpo. Ao contrário, é bem sujo, no melhor estereótipo africano que temos nas nossas mentes. É uma tendência de uns dois anos pra cá Hollywood fazer filmes-denúncia engajados naquele continente. Vi três: esse, “Hotel Ruanda” e “O jardineiro fiel”. Comum a todos é a mea-culpa ocidental (ou primeiro-mundista) que existe pois não fazemos nada para ajudar a África.

Diamantes são bonitos e, quando bem lapidados, têm um brilho branco intenso e podem valer muito dinheiro. No filme de Zwick somos levados a conhecer o tráfico dessas pedras que financiou a guerra civil em Serra Leoa na década de 90. Como bom seguidor dessa estética em voga nas produtoras de Los Angeles, além do caráter documental somos brindados com grandiosas cenas de ação. Em geral, se não fosse o fundo político, seria mais um filme com explosões, mocinhos e bandidos. O grande problema é que nem um lado e nem outro se sobressai, mantendo o filme num limbo pouco descritível. Ele simplesmente vai acontecendo.

Leonardo DiCaprio é o contrabandista-malvado-porém-com-coração, Jennifer Connelly é a jornalista-bonitona-denunciadora-da-maldade-do-mundo e Djimon Hounsou é o africano-bom-selvagem. O roteiro tem belas metáforas, como a do sangue que se mistura à terra vermelha e a do terceiro mundo sendo aplaudido pelos poderosos.

Estou esperando os primeiro-ministros europeus pedirem desculpas públicas aos moradores da África por tudo que tem acontecido naquele continente desde o neo-colonialismo. Um espetáculo midiático que não servirá para nada além de capas de jornais. A personagem de Connelly consegue sua matéria especial na revista em que trabalha, cheia de fotos em preto e branco, que provavelmente ajudará a mudar os consumidores de diamantes e fazer com que as empresas monopolistas dessa área repensem sua forma de atuação.

A indústria de diamantes lançou um site com vinte e três fatos sobre a produção e venda de diamantes. Você sabia que cinco milhões de pessoas tiveram acesso a cuidados médicos graças às receitas geradas com a comercialização desse mineral? Enquanto isso, a De Beers, maior monopolista do mercado, continua controlando a oferta e, conseqüentemente, os preços.

Tem vezes que me sinto num brinquedo de parque de diversões onde a gente entra, vê as mazelas do mundo, lê um texto bonito na tela (tipo “não compre diamantes de zonas de conflito”) e sai pensando que o planeta é horrível, mas que se eu seguir as dicas do texto bonito, tudo será melhor. E então fico feliz com as boas possibilidades de futuro.

Marcas Marcantes

janeiro 16, 2007


Para inaugurar a nova série, uma foto tirada no trânsito. Particularmente, eu teria muito medo de trabalhar neste lugar. Certeza que no mundo moderno atual, trabalhar sob pressão por ali tem algo a ver com chicotes, mordaças e bolinhas tailandesas…

Diálogos do Cotidiano

janeiro 15, 2007

– O anjinho vai no ombro direito e o diabinho no esquerdo.
– Mas a foto é por trás, certo?
– Sim.
– Então tinha que ser ao contrário, pro anjinho aparecer primeiro.
– Não, não pode!
– Por quê não? Faz de conta que a pessoa é canhota…
– Mas não é questão de destro e canhoto, é uma questão bíblica!

Toda Nudez Será Castigada

janeiro 13, 2007


Comecei a coleção de ingressos teatrais de 2007 em grande estilo, assistindo à reestréia da montagem da Armazém Companhia de Teatro para Toda Nudez Será Castigada, de Nelson Rodrigues, agora em cartaz no teatro Sérgio Cardoso.

Nesta produção ganhadora do prêmio Shell de 2005 para melhor direção e melhor iluminação, o texto ganha uma leitura minuciosa e criativa que conseguiu modernizar o texto deslocando-o do universo carioca da década de 60 para um ambiente quase atemporal, sem no entanto perder a densidade, a dramaticidade, o sarcasmo corrosivo e sobretudo a sordidez, tão típicos do universo do dramaturgo.

Além disso, o tempo também foi utilizado com maestria ao longo da encenação, através do uso de recursos cênicos que tornam a peça estimulante e dinâmica, permitindo que cenas e diálogos ganhem uma velocidade de flashes, de forma quase cinematográfica, sem no entanto deixar de ser teatral em momento algum.


A construção de cenas e de personagens também é outro ponto em que a companhia carioca acertou em cheio. Exemplos disso são as emblemáticas três tias, a dualidade do padre de direita e o médico de esquerda, e sobretudo a construção fantástica do universo do puteiro, ou melhor, do “rendez-vous”. Do começo ao fim, a platéia fica embasbacada com a qualidade da encenação, com a riqueza de idéias e soluções criativas que se somam à qualidade do texto e ao talento dos atores. Tudo isso junto torna o espetáculo obrigatório para quem gosta de um bom teatro.