Sofia Coppola fez um filme histórico que não é bem um filme histórico. Os críticos em Cannes mais vaiaram que aplaudiram, recepção bem diferente do esperado. Pode não ser um filme perfeito, mas está muito longe de merecer algumas das críticas que recebeu. É uma obra retrô-cool, cheia de cores, texturas, com uma bela Kirsten Dunst em ótima atuação e até um All Star no figurino do século XVIII.
A história é focada na própria Maria Antonieta e os acontecimentos daquela época são apenas um pano de fundo sem muita importância até o fim do filme. Vemos como ela sai de seu habitat na Áustria e é levada até Versalhes, para um casamento arranjado com o futuro rei Luís XVI. A corte francesa não poderia ser mais diferente da austríaca com todas suas afetações, babados e gastanças proporcionados pelo Antigo Regime. As roupas e até mesmo o cachorro que vieram de Viena são proibidos de passar pela fronteira.
Pense a respeito disso. Uma jovem com 14 anos é levada a se casar em outro país. Mais. Lá chegando, não engravida, pois seu marido parece estar mais interessado nas caçadas que faz todas manhãs, e é alvo de fofocas dizendo que “a austríaca” é “frígida”, “seca” e que “não sabe seduzir o marido”. Mais. Sua mãe manda cartas lembrando-a que está ali apenas porque pode dar um herdeiro para a França. E agora ela já tinha uns 16 anos.
Como todos acabam se moldando ao meio, Maria Antonieta passa a se divertir como pode. Quebra o protocolo, lê Rousseau, dá festas, prova perucas e roupas e sapatos, joga cartas e convence seu marido e as amigas a irem num baile de máscaras em Paris. Essa cena do baile é uma das mais interessantes pois vemos a aristocracia francesa dançando, em fins do século XVIII, ao som de Siouxsie and The Banshees. É isso. E funciona, como em todo resto do filme. As músicas fora de época se encaixam com perfeição em quase todos momentos.
Então Luís XV morre, seu neto é coroado junto com a rainha, ele com 20 e ela com 19 anos, e ele pede ajuda a Deus “pois somos muito jovens para reinar”. Os dois estão perdidos no meio de tantos serviçais, obrigações e manias. A rainha continua correndo pelos jardins do palácio e conversando sobre sapatos e penteados, mas aos poucos começa a se tornar mais madura. Com a população às portas de Versalhes, Luís XVI diz que fica no castelo e ela explica que estará junto de seu marido. Termina da melhor forma, mostrando a certeza do fim de uma era, mas sem entrar em detalhes.
Se você está interessado na vida da rainha, sugiro ler “Marie Antoinette – The journey”, livro de Antonia Fraser no qual o filme foi livremente baseado. Outra dica é “A revolução francesa”, pocket do Hobsbawm baratinho, baratinho. Vamos combinar o seguinte: você vai assistir ao filme sem esperar um documentário histórico. Divirta-se.