Os últimos três filmes aos quais assisti foram os seguintes…
“A Vida dos Outros“, do alemão Florian Henckel, mostra a vida de um escritor da Alemanha Oriental sendo acompanhada dia e noite pelo governo socialista. Um dia decidem que aquele homem, cujos livros fazem sucesso no lado capitalista, poderia ser uma ameaça. Desenrola-se um melodrama onde os maus podem ter coração, tudo sem muita discussão. Uma história ótima que vai sendo esvaziada no decorrer do filme, que pouco a pouco se torna um novelão.
“A Culpa é do Fidel“, da grega Julie Gavras, é a primeira experiência ficcional dessa documentarista filha do conhecido diretor Costa-Gavras. Nela, um advogado espanhol radicado em Paris faz uma viagem ao Chile acompanhado de sua mulher numa tentativa de redimir seus pecados. Ele foi embora da Espanha fascista e, depois de um tio ser morto pelo regime de Franco, percebe a covardia de seus atos passados. Acontece que o casal volta revolucionário e sua filha não entende as razões que levaram sua família a se mudar de uma grande casa para um pequeno apartamento e a proibi-la de assistir às aulas de catecismo.
Crianças são crianças e, como tal, são curiosas. Em conversas com sua avó, a menina descobre que os comunistas são barbudos, vermelhos e querem tirar tudo que eles, a burguesia, têm. Já num bate-papo com sua antiga babá fugida de Cuba, ela aprende que a culpa, bem, a culpa é do Fidel, que quer fazer a guerra nuclear. Rapidamente ela junta as peças do quebra-cabeça, vê que aqueles barbudos que passaram a freqüentar seu novo apartamento são comunistas e começa a questionar as atitudes dos pais.
O casal de irmãos é a origem das piadinhas e situações engraçadas que permeiam o filme, como o momento em que o garoto pergunta se o Papai Noel é comunista – já que ele é barbudo e vermelho. A garota, numa noite insone, conversa com os amigos revolucionários da família e ensina a eles que, no capitalismo, o importante é ter lucro. Seria ótimo se não tivesse me lembrado toda hora de outros filmes onde questões políticas são vistas pelos olhos de uma criança, como “Machuca”, de Andrés Wood. Esse, aliás, que trata de um tema muito próximo ao de Julie Gavras: a ditadura pós-Allende no Chile.
“Jogo de Cena“, do brasileiro Eduardo Coutinho, deveria ser visto por todos atores e aspirantes. Mas não só. O documentarista fez anúncios em jornais e escalou mulheres para contarem episódios interessantes de suas vidas. A premissa é simples, mas o resultado é sensacional. Além das mulheres anônimas, Coutinho convocou atrizes conhecidas ou não para encenarem as mesmas histórias. No meio disso tudo, as atrizes também contaram coisas reais e assim a confusão se formou.
As histórias fortes tratam de gravidez, morte e separação. Algumas são engraçadas, outras são tristes e outras até misturam tudo. Uma das atrizes diz que, ao fazer um personagem fictício, você pode atingir um nível medíocre e tudo estará bem, mas ao fazer um personagem real as coisas se tornam muito mais difíceis. Até que ponto ela está imitando ou recriando aquela pessoa? Outra diz que o choro é algo importante na TV e que pessoas de verdade tentam escondê-lo a todo custo, como uma forma de demonstrar força. É difícil saber quem está falando a verdade ou quem a está apenas encenando.