Archive for março, 2006

The critic

março 31, 2006

Rubens Ewald Filho é certamente o mais conhecido crítico de cinema do Brasil. E para muitos, inclusive para este que vos escreve, certamente é o mais dispensável crítico de cinema do Brasil. É uma questão de opinião pessoal, mas o acho extremamente fútil, prepotente e egocêntrico (quem nunca se irritou com seus comentários desnecessários e pseudointelectualóides – sobretudo sobre os cabelos e vestidos das celebridades e não sobre seus filmes – durante as igualmente fúteis cerimônias do Oscar?).

Miguel Falabella – “o único workaholic* do teatro brasileiro”, como já li em algum lugar – é um dramaturgo, diretor, ator, cantor e espadachim que criou uma linguagem já famosa para escrever sobre o cotidiano, tem em seus espetáculos sempre sua linha humorística característica e uma proximidade muito grande com a linguagem televisiva. O público que está acostumado a assistir apenas peças com atores famosos ou comédias com Fúlvio Stefanini e grande elenco costuma delirar com suas produções.

O que esses dois têm em comum? Calma que já chego lá. Esta semana recebi um convite para assistir a um ensaio aberto da peça “Querido Mundo”, escrita por Falabella e Maria Carmem Barbosa e dirigida por Ewald Filho. Como bom viciado em teatro, obviamente aceitei e lá fomos em caravana ‘prestigiar’ a produção. Cortinas fechadas, apenas um pedaço de cenário embrulhado em papel alumínio e com girassóis fora das cortinas. REF sobe ao palco e faz uma breve introdução. “Em 1992 essa peça foi o maior fracasso no Rio de Janeiro, mas nós decidimos montar aqui em São Paulo e acreditamos que vai dar certo.” Minha garganta começa a fechar, meu coração dispara e eu fico com muito medo do que está por vir. “Esse é o primeiro ensaio aberto a algum público, depois queremos conversar com vocês para saber o que vocês acharam.” Pode deixar, Rubinho.

Sobre a peça não há muito o que dizer. Em cena, dois personagens que se encontram em uma noite de reveillon após uma explosão de botijão de gás e se apaixonam. O primeiro ato tem um ritmo, o segundo ato se arrasta com um conflito que vai e volta. Não acaba nunca. Os atores estão ok, nada excepcional, nada assombroso, apenas alguns pontos que alguns ensaios a mais (sobretudo ensaios abertos) ajudariam a melhorar. Como era de se esperar, uma comédia comercial padrão, sem muita imaginação. A cara do teatro Bibi Ferreira, apesar da montagem ser no teatro Gazeta, igualmente trash em sua programação.


Após a peça, o debate. Atores e diretor se sentam no palco e esperam elogios. Vêm críticas e sugestões que são rebatidas por um diretor tenso, que em vez de tentar defender qualquer coisa, poderia simplesmente ouvir os comentários, absorver o que achasse relevante e ignorar aquilo que achasse irrelevante. Entre alguns dos comentários a respeito do interminável segundo ato, ouvimos “enxugamos o texto, tiramos tudo aquilo que não é piada”. Brilhante. Com o perdão do trocadilho, mas sempre soube que Rubens Ewald Filho não sabia lidar com essas coisas de crítica…

E então, nova surpresa: hoje de manhã abro o jornal e qual não é minha surpresa quando, ao consultar as estréias teatrais da semana, não deparo com “Querido Mundo”, um dia após o primeiro ensaio aberto a qualquer tipo de publico! E com ingressos que chegam a 40 reais. Medo, muito medo.

* Certamente quem considera Falabella o único workaholic do teatro brasileiro ignora a existência de núcleos interessantíssimos como o Cemitério de Automóveis de Mário Bortolotto, os Satyros de Ivam Cabral e Rodolfo Vázquez, o Teatro da Vertigem de Antônio Araújo, a Sutil Companhia de Felipe Hirsch ou diversos outros nomes que posso citar de companhias empenhadas o tempo todo em produzir teatro de qualidade.

Filmes da Semana

março 31, 2006

A Marcha do Imperador (ou A Marcha dos Pingüins, nunca sei)


História bonitinha + pingüins fofinhos + produção impressionante + imagens fantásticas + narração tosca + trilha sonora boçal = filminho bonitinho e dispensável com cara de Discovery Channel.

O Veneno da Madrugada


Gabriel García Márquez + fotografia e direção de arte deslumbrantes + roteiro confuso + atuações boas + dublagem bizarra = filme bem estranho mas bem bom.

Quadrilha

março 26, 2006

Um problema que sempre tive é não saber quais são as relações entre as pessoas, ou pelo menos seus nomes técnicos. Acho complicadíssimo entender quem é nora ou genro de quem e posso ficar durante longos minutos olhando para uma árvore genealógica didaticamente desenhada para esse fim. Aí me surgem outros parentes, tipo concunhado e concunhada. Nora, segundo o Houaiss, é “designativo da esposa em relação ao pai ou à mãe de seu marido”. Quem?

É importante lembrar que quando estudamos uma outra língua sempre existirá aquela aula em que teremos de aprender esses mesmos nomes. Se em português já é difícil, imagina em alemão. Sogra e sogro, na língua do Goethe, é Schwiegermutter e Schwiegervater. Sim, existem as ligações, as palavras variam pouco (mesmos exemplos, em francês: belle-mère e beau-père) mas, mesmo assim, é complicado.

Também não sei, por mais que tentem me explicar, quais são os laços da família Duarte: Gabriela, Débora, Paloma, Regina e Lima.

Viagem Insólita

março 24, 2006

Ingressos comprados para assistir no sábado à tão esperada peça teatral BR-3, da aclamada companhia Teatro da Vertigem, encenada no rio Tietê. Enquanto espero ansiosamente pela apresentação, me divirto com algumas informações contidas no termo de responsabilidade que deve ser assinado antes de assistir ao espetáculo:

– O Rio Tietê possui cheiro desagradável, podendo causar incômodo aos espectadores.
– No local do espetáculo não há pontos de venda de alimentos.
– O contato com a água do rio deve ser evitado, pois pode ser prejudicial à saúde.

Ok, neste final de semana tem resenha de teatro.

Update 26/03/06: Devido à intensidade da chuva e ao nível do rio, as sessão de ontem foi cancelada. Resenha só na semana que vem…

Pílulas de Futilidade (Diálogos do Cotidiano)

março 21, 2006

– A ##### quer montar um cover das Spice Girls.
– Legal.
– Quem você quer ser?
– Nossa, não sei…
– Difícil, né?… Todas são ótimas.

Fato Relevante

março 13, 2006

Em sessão de autógrafos nesta noite na 19ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, a escritora e ex-garota de programa Raquel Pacheco, 21, mais conhecida como Bruna Surfistinha, apontou o livro espírita “Ninguém é de Ninguém”, de Zíbia Gasparetto, como aquele que marcou sua vida. (…)

Pelo menos não é Paulo Coelho, né?

Homem com cara vermelha

março 11, 2006

O perrengue


Ingressos caros vendidos antecipadamente. Cambistas na porta dizendo que “o tal do Tïesto” vai tocar logo mais. Empurrões, falta de respeito, casa fechada à 1h, gritaria e gente mal-educada — parecia até, como bem disseram, uma micareta. Onde foi parar o “4º melhor clube do mundo segundo a revista Mixmag”?

Quem sabe, sabe: nunca foi fácil entrar, se manter lá dentro ou sair do D-Edge mesmo em noites sem atração especial. Na última quinta-feira foi diferente, foi pior. O top dos tops, Laurent Garnier, fez sua única apresentação (aberta) em São Paulo naquele dia.

Apesar de ter chegado cedo, levei uma hora pra conseguir entrar e posso considerar esse um tempo recorde. A pista foi lotando até beirar o insuportável e algumas vezes passou dessa barreira. Já falei que tinha gente mal-educada que não parava de andar, que aspergia bebida e que, às vezes, ficava parada em rodinhas conversando? “Oi, amigo! Quanto tempo! E a sua família, como é que vai?”.

Fui precavido e me vacinei contra muvucas e mega-perrengues, mas mesmo assim perdi a paciência algumas vezes. Não dá pra curtir a música se alguém te empurra e passa com a namorada, namorado e mais sete amigos, de mãos dadas pra não se perder. Aposto que pessoas gostaram porque a balada tava bombada, não é mesmo, minha gente? “Inferno” era o que eu pensava. E se pegasse fogo não sobraria um.

O mito


Já ouvi sets melhores, mas vê-lo ao vivo nunca é demais e sempre é um prazer. Digo, é um prazer se não tiver alguém na sua frente comentando com os amigos que “o D-Edge é superdivertido”. Tentei ignorar o público e me ater ao que importava: o som que saía (meio abafado) das caixas.

No começo a agulha pulou e o som acabou. Arrumaram, trouxeram um CDJ novo e pronto. Como era de se esperar, foram três horas e meia de uma pequena viagem musical. Ele tocou de tudo um pouco, passando por techno, electro, house, minimal, breakbeat, drum’n’bass, rock…

Rolou New Order, The Doors, The Cure (numa versão do Nouvelle Vague, eu acho), um ou outro clássico eletrônico (tipo “Can You Feel It”) e, no meu momento emocionante, “The Man With The Red Face”. Mãos para o alto, pessoas cantando junto e o francês tirou os fones pra dançar. Pelo Laurent foi ótimo, mas poderia ter sido fantástico.

Pílulas de Futilidade (Diálogos do Cotidiano)

março 6, 2006

– Nossa, olha que erótico: a Coca-Cola está caindo bem no furo do gelo!
– Uau! To até ouvindo um Barry White rolando de fundo.

Michael, eles não ligam pra gente

março 3, 2006

A cantora Madonna quer comprar uma casa na Galiléia –por onde, de acordo com a tradição, Jesus teria passado em sua segunda aparição na Terra, informou nesta sexta o jornal “Yediot Ahronot”.

Madonna dá início à sua transformação em Michael Jackson.

Cotas, privilégio e realidade

março 2, 2006

O assunto é chatinho, mas de tempos em tempos a discussão sobre cotas em universidades públicas volta à tona. Agora que um projeto defendendo essa política está para ser apreciado no Congresso, novamente resolvi falar o que acho.

Os que estão desse lado dizem que os alunos das universidades públicas são privilegiados pois, além de não pagar por seus estudos, puderam estudar em boas escolas particulares e/ou pagar por cursinhos preparatórios. Considero uma lógica torta culpar os “privilegiados” pelos problemas dos “infortunados”. É interessante perceber que aí mesmo já surge o problema central — o péssimo ensino público.

O governo fala mal de si mesmo ao aceitar o fato e o povo, num grandioso exemplo de auto-engano, acha que uma lei reservando 50% das vagas públicas resolverá todos seus problemas. Mal sabem que haverá novos problemas como a perpetuação do péssimo ensino público, a piora da qualidade nas universidades estatais, etc.

Quem pode pagar pelo ensino de qualidade assim o fará, sempre. É, inclusive, uma forma mais eficiente de fazer o dinheiro circular: quem pode, paga. Não vou discutir sobre fins sociais. De qualquer maneira, vejo uma espécie de vingança oculta, uma coisa meio inconsciente na mente dos defensores das cotas.

Algo como se dissessem “vocês nos oprimiram nesses últimos 506 anos e agora nós vamos dar o troco”. Tiram dos ricos para dar aos pobres? Isso é injusto, principalmente se lembrarmos que muitos alunos das universidades públicas não são ricos. Esses existem, claro, mas são em número inferior às vagas oferecidas anualmente.

Outro ponto a ser considerado é o das cotas nas cotas. Além de separar metade das vagas para os estudantes da escola pública, parte delas será dedicada aos afro-descendentes e índios. Índios?

As pessoas costumam criar uma aura em torno do ensino superior, como se o diploma abrisse todas as portas dos maravilhosos empregos corporativos que pagam muito. Especificamente sobre o ensino superior gratuito, imaginam como se fosse algo de primeiro mundo, brilhante e com cheiro de amaciante. Isso me lembra uma conversa que tive com um desconhecido quando fiz cursinho:

– E eu fiz XXX no Mackenzie durante seis meses…
– Hm.
– … mas aí eu parei. Prefiro fazer na USP.
– Hm. Por quê?
– Imagina estudar cinco anos sem pagar nada! NADA!

E, claro, me esqueci de frisar que o paraíso é grátis. É sempre bom reforçar a idéia, mesmo sabendo que, orginalmente, as universidades não deveriam formar técnicos, etc.

Faça uma visita a algumas unidades da USP e veja a realidade com seus olhos. Muitos prédios são dignos de escolas de ensino médio na periferia paulistana, dezenas de disciplinas não têm oferecimento por falta de professores, salas apertadas, poucas cadeiras e ar quente. Não parece Harvard.

As unidades privilegiadas dentro desse universo já tão privilegiado são aquelas em que as fundações (amadas por alguns, temidas por outros) têm poder e captam recursos com a iniciativa privada. Os professores que são membros dessas fundações costumam ganhar muito mais dinheiro com seus MBAs e consultorias do que com o salário pago pelo Estado. Em troca temos datashow, granito e ar-condicionado.