Rubens Ewald Filho é certamente o mais conhecido crítico de cinema do Brasil. E para muitos, inclusive para este que vos escreve, certamente é o mais dispensável crítico de cinema do Brasil. É uma questão de opinião pessoal, mas o acho extremamente fútil, prepotente e egocêntrico (quem nunca se irritou com seus comentários desnecessários e pseudointelectualóides – sobretudo sobre os cabelos e vestidos das celebridades e não sobre seus filmes – durante as igualmente fúteis cerimônias do Oscar?).
Miguel Falabella – “o único workaholic* do teatro brasileiro”, como já li em algum lugar – é um dramaturgo, diretor, ator, cantor e espadachim que criou uma linguagem já famosa para escrever sobre o cotidiano, tem em seus espetáculos sempre sua linha humorística característica e uma proximidade muito grande com a linguagem televisiva. O público que está acostumado a assistir apenas peças com atores famosos ou comédias com Fúlvio Stefanini e grande elenco costuma delirar com suas produções.
O que esses dois têm em comum? Calma que já chego lá. Esta semana recebi um convite para assistir a um ensaio aberto da peça “Querido Mundo”, escrita por Falabella e Maria Carmem Barbosa e dirigida por Ewald Filho. Como bom viciado em teatro, obviamente aceitei e lá fomos em caravana ‘prestigiar’ a produção. Cortinas fechadas, apenas um pedaço de cenário embrulhado em papel alumínio e com girassóis fora das cortinas. REF sobe ao palco e faz uma breve introdução. “Em 1992 essa peça foi o maior fracasso no Rio de Janeiro, mas nós decidimos montar aqui em São Paulo e acreditamos que vai dar certo.” Minha garganta começa a fechar, meu coração dispara e eu fico com muito medo do que está por vir. “Esse é o primeiro ensaio aberto a algum público, depois queremos conversar com vocês para saber o que vocês acharam.” Pode deixar, Rubinho.
Sobre a peça não há muito o que dizer. Em cena, dois personagens que se encontram em uma noite de reveillon após uma explosão de botijão de gás e se apaixonam. O primeiro ato tem um ritmo, o segundo ato se arrasta com um conflito que vai e volta. Não acaba nunca. Os atores estão ok, nada excepcional, nada assombroso, apenas alguns pontos que alguns ensaios a mais (sobretudo ensaios abertos) ajudariam a melhorar. Como era de se esperar, uma comédia comercial padrão, sem muita imaginação. A cara do teatro Bibi Ferreira, apesar da montagem ser no teatro Gazeta, igualmente trash em sua programação.
Após a peça, o debate. Atores e diretor se sentam no palco e esperam elogios. Vêm críticas e sugestões que são rebatidas por um diretor tenso, que em vez de tentar defender qualquer coisa, poderia simplesmente ouvir os comentários, absorver o que achasse relevante e ignorar aquilo que achasse irrelevante. Entre alguns dos comentários a respeito do interminável segundo ato, ouvimos “enxugamos o texto, tiramos tudo aquilo que não é piada”. Brilhante. Com o perdão do trocadilho, mas sempre soube que Rubens Ewald Filho não sabia lidar com essas coisas de crítica…
E então, nova surpresa: hoje de manhã abro o jornal e qual não é minha surpresa quando, ao consultar as estréias teatrais da semana, não deparo com “Querido Mundo”, um dia após o primeiro ensaio aberto a qualquer tipo de publico! E com ingressos que chegam a 40 reais. Medo, muito medo.
* Certamente quem considera Falabella o único workaholic do teatro brasileiro ignora a existência de núcleos interessantíssimos como o Cemitério de Automóveis de Mário Bortolotto, os Satyros de Ivam Cabral e Rodolfo Vázquez, o Teatro da Vertigem de Antônio Araújo, a Sutil Companhia de Felipe Hirsch ou diversos outros nomes que posso citar de companhias empenhadas o tempo todo em produzir teatro de qualidade.