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Piratas do Tietê

maio 23, 2008

O Domo do Milênio, em Londres, foi o grande erro de Tony Blair. Parecia uma coisa bacana fazer uma espécie de coliseu moderno na periferia da cidade, mas iam usar pra quê? Aconteceu que o Domo virou um elefante branco e foi vendido (ou dado em comodato, sei lá) pra O2, uma operadora de telefonia na Inglaterra. Virou The O2 e transformou-se num espaço para mostras e restaurantes e palco de grandes eventos esportivos ou musicais.

Por exemplo, Daniella Mercury.

A autora de “Alegria agora” irá se apresentar na capital britânica no dia 6 de Junho, no espaço chamado “indigO2”, que é tipo um Baretto. Mentira, é tipo um palco menor dentro da mega tenda que é The O2. Por 40 libras você verá Daniella e o Balé Mulato. Mas porque estou falando disso mesmo? Ah, sim, o Domo. Fica meio longe do centro de Londres, mas dá pra chegar lá de metrô, carro, táxi, ônibus, DLR (que é tipo um monotrilho) e trem. Ou, a minha preferência, de barco.

O Thames Clipper é um serviço de barcos pelo Tâmisa oferecido por uma empresa privada que pode levar os espectadores ao O2. O Thames Clipper também administra o serviço “Tate to Tate”, que conecta a Tate Modern com a Tate Britain via rio. Mas voltando ao show da Daniella, convenhamos que é muito mais chique pegar um barco na London Bridge e descer seis pontos depois na O2. Se você for mais chique ainda, paga mais caro, embarca no O2 Express na Waterloo Bridge e vai direto — bebericando champanhe. De 2,50 a 18 libras, é tudo uma questão de escolha. Aposto que o Balé Cafuzo (ou Mulato, sei lá) vai desse jeito.

Isso me faz pensar que falta algo assim em São Paulo. Alguém poderia, por exemplo, pegar um barco no viaduto Imigrante Nordestino, o mais ao leste da Marginal Tietê, e descer uma meia hora depois na avenida Interlagos, no ponto mais ao sul da Marginal Pinheiros, pra ver a Fórmula 1. (na verdade, ali nem é mais marginal, mas deu pra entender a idéia)

Imagina que beleza deixar seu carro estacionado na USP, ir num shuttle exclusivo até o pier Cidade Universitária e entrar num barco-bar que o levará até a ponte Transamérica. Lá você desceria e entraria em outro shuttle exclusivo que o deixaria na porta do Teatro Alfa. Imagine as mulheres com chapéus enormes… Depois jantariam no restaurante no topo da ponte estaiada. Seria um retorno à belle époque paulistana. Poderia até ser criado um circuito do jet-set, com paradas na Hebraica, no Jóquei e na Daslu, além do já citado Alfa.

Mas somos uma cidade de muitos contrastes. Não podemos apenas pensar na alta sociedade e, por isso, proponho a criação de linhas como a Expresso Morumbi. Ela servirá tanto para os trabalhadores se deslocarem até a Berrini, quanto para os torcedores chegarem ao estádio homônimo em dias de jogo. Os corinthianos adorariam poder embarcar na ponte do Tatuapé e descer com tranqüilidade e conforto minutos depois na ponte do Morumbi. O problema seria possíveis brigas entre torcidas. Não gostaria de acordar na quinta-feira e ler na capa da Folha: “Embate entre torcidas afunda barco com são-paulinos nas imediações da ponte Bernardo Goldfarb”.