Archive for abril, 2006

Não venha me procurar

abril 30, 2006

Enquanto a TV transmitia o XV de Jaú jogando contra o Ferroviária comecei a pensar sobre o filme que vi ontem, “Estrela Solitária”. Esta última produção de Win Wenders, assim como o jogo, pode ser interessante — mas não é da 1ª divisão.


A personagem principal é Howard Spence, um ator decadente de westerns que, numa necessidade incialmente inexplicável, foge do set de filmagem e vai ao encontro de sua mãe. Mais tarde começa a busca por um filho que não conhece, fruto do rápido relacionamento com uma garçonete há anos atrás.

Qual seu objetivo ao fazer isso? “Não estou morto”, disse Spence debaixo de um viaduto no meio do deserto americano. Possivelmente sentiu que deveria ir atrás de seu passado, repensar sua vida e, talvez, mudar algumas coisas. Ou, numa outra interpretação, estava desesperado pelo rumo que tomou na sua existência.

Alguns personagens, como o empregado da seguradora, a Sandy drogada e o anjo da guarda têm um certo quê comicô que não entendi a razão de ser. Há ainda um pouco de “Flores Partidas” nessa história, com o homem que busca algo naquilo que deixou pra trás, mas o filme de Jim Jarmusch foi muito melhor.

Anti-social

abril 27, 2006

Confesso que ao entrar no Orkut no fim-de-semana e ver que agora eu poderia saber quem passou pelo meu profile me deixou satisfeito. Há tempos tinha uma curiosidade mórbida sobre isso. No entanto, ao lembrar que eu também deixaria rastros na página dos outros, desliguei a funcionalidade. Em menos de 3 minutos a liguei novamente — lembra da curiosidade mórbida?

Ultimamente o que tem acontecido é que não acesso mais o perfil de desconhecidos. Sim, já pensei em criar um fake para continuar descobrindo as vidas de outras pessoas mas ainda não consegui me desvencilhar da preguiça. Quanto aos amigos, pouco me importo: eles me conhecem e qual o problema de ver suas fotos e ler seus scraps? Eles aparecem e, de repente, já cliquei.

O que tem me preocupado (como se isso fosse motivo para preocupações e posts neste blog) é o aumento incrível no número de usuários do site. É no mínimo estranho que em poucos dias tanta gente tenha criado perfis. Algo me diz que não é um povo novo… Agora vem o problema.

O Orkut servia primariamente para manter contato com os conhecidos e, secundariamente, pra espiar suas vidas sem ser visto. E, claro, espiar a vida de desconhecidos, desafetos e gente de todo tipo. E agora? Os resultados podem ser ruins.

abril 27, 2006

O calhau é uma espécie de lado B da mídia. Designa, no jargão jornalístico, matérias engavetadas e o lugar não preenchido pelos anunciantes. É também o nome do projeto de Facundo Guerra e Giselle Beiguelman, com direção executiva de Roberta Alvarenga, realizado pelo Vegas Club.

Não se trata de uma exposição virtual, mas sim de uma infiltração que ocupa os buracos da programação de anúncios de serviços noticiosos on line com banners criados por artistas convidados e também os dos painéis eletrônicos da Rede Eletromídia.

Aqui.

Eu conheço alguém que…

abril 23, 2006

Eu conheço alguém que entrevistou Manoel Ferreira e Ruth Amaral, compositores das marchinhas de carnaval do Sílvio Santos, tipo “A Pipa do Vovô” e “Transplante Corinthiano”.

Diálogos do Cotidiano

abril 16, 2006

– E aí eu fui entrevistar o dono do pet shop.
– Hm.
– Perguntei de onde ele tirou essa idéia. “De abrir um pet shop gay?”, ele respondeu. Eu não tinha percebido que era um pet shop gay!
– O que é um pet shop gay?
– O logo tinha o arco-íris, tudo tinha essas cores… Mas eu achei que fosse normal os tosadores serem gays.

Três filmes e um ovo

abril 16, 2006

(Saco. O Maurício já falou de “Árido Movie”?)

Árido Movie

Fora a divisão comercial e não-comercial, existem dois tipos de filmes brasileiros: os péssimos e os bons. A produção em questão participa, felizmente, do segundo grupo. Apesar disso, tem os vícios dos filmes deste país, como erros de continuidade bizarros e a péssima fotografia. Li em algum lugar que ela era boa. Olha, não acho que sejam boas (mesmo sendo características) cenas internas quase negras e cenas externas brancas, quase brilhantes. Sim, Selton Mello explica com detalhes como bolar um baseado.

Bonecas Russas

A continuação de “Albergue Espanhol” é um belo filme para corações apaixonados. Conta ainda com um dos diálogos mais batidos e divertidos dos últimos tempos, ou pelo menos desde “Moulin Rouge”:

(Inglês chega a Paris. Ao sair da Gare du Nord encontra duas francesas.)

– Parlez vous français?
– Oui, nous parlons.
– Voulez vous coucher avec moi?

O Plano Perfeito

Veja só, esse é o novo do Spike Lee. Gosto muito dele desde a filmagem de “They Don’t Care About Us”, aquele clipe que teve duas versões, sendo a mais bacana locada no Rio e no Pelourinho. Sim, aquele do já imortalizado grito “Michael, eles não ligam pra gente!”.

Voltando. A história é típica de Tela Quente e conta com um espetacular roubo a banco em Manhattan, conexões com a Segunda Guerra, gente rica, imigrantes, o presidente da Albânia e um iPod. Andam dizendo por aí que o mais importante do filme é a discussão racial…

Ovo

Filmes do Feriado

abril 16, 2006

Árido Movie é um filme interessante. Com uma fotografia péssima e com uma trilha sonora óbvia, conta a história de um jornalista paulistano que viaja para o Recife para o velório de seu pai, e acaba deparando com diversas questões locais: coronelismo e disputa de poder, pobreza, discriminação, falta de água e religião, entre outros. Poderia ser um filme chato e em vários momentos beira este abismo. O tom do filme, que poderia ser denso e cansativo, é suavizado pelas divertidas e dispensáveis aparições dos amigos do protagonista, que compõem o “núcleo maconheiro” do filme. Mas apesar de tudo, é sim um filme bem bom.

Dr. Fantástico ou Como Aprendi a Parar de Me Preocupar e Amar a Bomba (Dr. Strangelove or: How I Learned to Stop Worrying and Love the Bomb) de Stanley Kubrick é uma comédia de humor negro genial. Filmado em 1964, é uma deliciosa crítica à guerra fria, e conta a história de um ataque nuclear à Rússia que é autorizado por engano. A diversão fica por conta da satirização da incompetência, da prepotência e da paranóia dos Estados Unidos. A história se divide em três cenários: a Sala de Guerra, onde o presidente dos EUA se reúne com seu alto escalão para buscar uma solução diplomática para a crise, o apertado avião americano em solo russo que carrega dois mísseis nucleares, e a base militar de onde o General Jack D. Ripper (“Jack, o Estripador”) ordenou o ataque antes de se suicidar. Filme obrigatório.

Gritos e Sussurros de Ingmar Bergman é um exemplo excelente de filme enquanto arte em sua essência. Conta a história de uma empregada e duas irmãs que vivem reclusas em uma casa enquanto cuidam da irmã enferma à beira da morte. É um filme claustrofóbico e incômodo que, através de seus planos longos e silenciosos, revelam as expressões e sentimentos das personagens através de seus semblantes. Atuações ótimas com direção brilhante, mas o que mais me chamou a atenção foi sem dúvida alguma a fotografia belíssima, primorosa, com seus vermelhos intensos e suas composições sólidas e simétricas. Na imagem acima, uma pietá absurdamente humana, em uma das cenas após a morte da irmã enferma.

Autos de Páscoa

abril 16, 2006

DRAMA DA PAIXÃO Encenado às margens do rio Tietê com direção de Edimilson Andrade, o espetáculo conta a vida, a morte a ressurreição de Cristo, recuando também até o período da busca dos hebreus pela terra prometida. (…)

Qualquer semelhança é mera picaretagem.

E o assunto é (mais uma vez) cinema.

abril 16, 2006


O cinema é definitivamente fabuloso. Fabuloso porque consegue servir àqueles que se interessam pela arte construída através da captura de imagens em seqüência, e também porque serve àqueles ávidos por uma história bem contada, e não pela arte.

Sempre fui um grande defensor do desvencilhamento do cinema-arte do cinema-entretenimento porque é muito injusto analisar uma obra-prima sob o ponto de vista de quem quer apenas se entreter por duas horas comendo pipoca, assim como é muito injusto analisar uma história interessante e bem contada sob o ponto de vista de quem busca algo para refletir e discutir em uma mesa de bar ou de café com os amigos cinéfilos. Tudo é uma questão de receptividade.

Claro que isso não é uma justificativa de se defender qualquer filme, existe muito lixo, mas muito mesmo, que está a anos-luz de ser considerado obra de arte, e que nem sequer consegue contar uma boa história de uma forma aprazível. Mas há muitas obras brilhantes que conseguem contar boas histórias, de forma agradável e ainda têm uma importância na história do cinema que vai muito além dos milhões que arrecadam nas bilheterias. Até mesmo porque há vezes que grandes obras nem sequer conseguem fazer sucesso de bilheteria…

Confesso que eu sou do tipo de pessoa que vai ao cinema na maioria das vezes em busca de arte: de um roteiro bem construído, de uma fotografia deslumbrante, de uma edição inteligente e, sempre que possível, uma história bem contada. Até porque por mais brilhante que seja o filme, se a história não for bem contada, dificilmente eu o verei novamente.

Por isso que eu gostei de 2046 de Kar Wai Wong, por sua fotografia absolutamente fabulosa apesar da história intencionalmente confusa proposta pelo roteiro evasivo. Ou ainda porque gostei de Nossa Música, praticamente um filme-tese de Jean-Luc Godard, que tem um roteiro ultradenso e complexo que requer que o filme seja visto e revisto várias vezes para que seja plenamente compreendido.

Mas se é pela fotografia, prefiro milhões de vezes rever Abril Despedaçado de Walter Salles Jr. a rever 2046 em uma noite de sábado. Se é pelo roteiro complexo, sinto-me muito mais à vontade revendo alguma das pirações oníricas de David Lynch, que quando compreendidas, revelam ótimas histórias, do que rever Nossa Música. Afinal, por menos que eu busque entretenimento nas obras de arte, não sou masoquista ao ponto de fazer questão de dedicar meu escasso tempo a obras que não me proporcionem prazer.

Explodir um prédio para mudar o mundo

abril 11, 2006


Espécie de cópia modernizada do clássico “1984”, escrito por George Orwell, “V de Vingança” é um filme acima da média. Todas as características do livro que fala sobre o Grande Irmão estão presentes: ditador, tele-tela, polícia, medo, tortura, dúvida, etc. Até mesmo a novilíngua e as frases de impacto, ao estilo “guerra é paz”, aparecem. A parte modernizante vem dos conceitos contemporâneos como terrorismo, explosões e conflitos biológicos.

V é um homem que deseja libertar a Inglaterra do governo ultraconservador que tomou o poder logo após a decadência dos Estados Unidos. O ano é 2020. Para chegar ao comando, o Partido (nome próprio) usou da aprovação pública de suas idéias sobre cerceamento dos direitos civis e abusou do pavor. Daí para a ditadura foi um pulo. Nosso herói conta com a ajuda de Evey, uma bela garota que, de repente, se vê envolvida na trama.

Um tanto ufanista, a produção mostra os bons objetivos do terrorista V e a transformação pela qual passou a população britânica. Ela parecia, em geral, cansada da situação vivida e as idéias do herói mascarado funcionaram como um dedo no gatilho da ânsia por liberdade, igualdade e fraternidade. A aprovação popular que V obteve cresceu de maneira razoável. Não espere grandes questionamentos.

Enquanto isso, do outro lado, o chanceler caricato — quase um Hitler de cavanhaque — se envolve com problemas de governabilidade e procura um bode expiatório para o caso da situação literalmente explodir. Temos ainda o policial psicologicamente fraco, aparentemente sem saber de que lado está, mantendo uma investigação que o leverá a criar sua versão sobre a história na qual os grandes nomes estão envolvidos.

Junte tudo, misture com um pouco de teoria conspiratória e você poderá almoçar seu thriller político. O sabor é bom e a digestão é fácil, mas talvez um pouco mais demorada para fãs da HQ.