Archive for outubro, 2006

Mais do Tim Festival 2006

outubro 31, 2006

Depois do pequeno review sobre Daft Punk, agora uns comentários rápidos sobre as outras atrações que vi.

Sábado

Ouvi o Mombojó e foi bacana. Nunca tinha visto um show deles e achei interessante, tinha gente cantando as músicas etc. Em seguida veio Patti Smith e banda com seus cabelos brancos. Gostei bastante. Ela inclusive comentou sobre política, corporações, guerra e as eleições. “Vocês vão votar amanhã. Votem com o coração. O povo não deve servir ao governo, mas o governo deve servir ao povo”. Emendou com a óbvia “People have the power”, começou um coro de “hey ho, let’s go” e terminou o show arrancando as cordas da guitarra.

Ao fim da apresentação da musa punk, algumas pessoas foram embora. Eu fiquei para ver Yeah Yeah Yeahs. De início estava entediado e preocupado com o número de sósias da Karen O na platéia. Um povo, assim, meio fotolog. Não necessariamente gosto do YYYs mas acho os CDs interessantes. Pois bem, iniciado o show, saí na terceira música. Toda aquela comentada “presença de palco” pra mim foi teatrinho e, além disso, Booka Shade tocava no Village.

Corri pra lá e cheguei no fim da apresentação da dupla minimal. O que eu vi foi bacana, mas o espaço reservado aos DJs era péssimo: um corredor apertado com propagandas gigantescas da Motorola. Certamente os artistas mereciam coisa melhor, talvez apenas com exceção do farofeiro DJ Shantel, que tocou na sexta.

Depois do sorridente Booka Shade, entrou a dupla Ana e David, mais conhecida como Pet Duo. É importante frisar que em trinta segundos (entre o fim do set do Booka Shade e o início do set dos Pets) os BPMs foram de 120 para 180. A pista esvaziou um pouco, como era esperado, mas o hard techno do casal foi muito bom.

Domingo

O último dia do Tim era o dia do Beastie Boys. Antes deles, tocaram o bacaníssimo Instituto e o pretensioso DJ Shadow. Sobre esse último, parava o set para fazer conversinhas desnecessárias e massagear seu ego com os aplausos do público. Ainda chamou um MC chatinho que não parava de gritar coisas como “Rioooooo!!!! I wanna hear you making nooooise!!!!”. Foi interessante, mas poderia simplesmente ter tocado as músicas sem encheção.

Um pouco de espera depois, o palco do trio nova-iorquino estava pronto: uma mesa com pick-ups e mais duas coisas cobertas por um pano preto. Claro que todos sabiam que eram os instrumentos de verdade. O show foi explosivo desde o início. Os três estavam de terno e conversavam bastante.

“We love you all. We love Rio, we love the beaches, we love your juice… We love São Paulo”… Alguns cariocas se ofenderam com esse tipo de declaração, o que é extremamente bizarro. Houve muitos gritos de conterrâneos quando perguntaram se “is São Paulo in the house”.

Mas se era explosivo, terminou completamente destruidor. Os quarentões voltaram para o bis e mostraram a surpresa que, como eu disse, não era surpresa. Cada nota que saía do baixo criava uma ventania sem igual e tremia o corpo todo. Terminaram com “Sabotage” e o resultado foi dores pelo corpo e um dedo do pé provavelmente quebrado. Incrível! Segui para o Village onde vi Camilo Rocha animando o pessoal até de manhã com breaks e outras coisas divertidas.

Daft Punk – Tim Festival 2006

outubro 28, 2006

Começou com 65 minutos de atraso, mas rapidamente me esqueci disso. O show do Daft Punk ontem, na Marina da Glória, foi exatamente o que eu já sabia: ótimo. Com o mesmo set-list das outras apresentações ao redor do mundo, foi como se eu ouvisse mais uma vez o áudio do show no Coachella, facilmente encontrável em MP3. A diferença é que eu estava lá ao vivo vendo tudo.

O visual é parte importantíssima. A pirâmide em que a dupla fica durante a apresentação brilha, muda de cor, mostra fotos e tem luzes. Atrás dela, um telão se ilumina com desenhos, estrelas e palavras. O som da tenda principal do Tim Festival estava ótimo, com os graves batendo forte e a música alta.

Teve uns momentos nos quais eu achei que só faltou um globo espelhado descer do teto pra dar aquele visual disco. Principalmente na parte final do show, quando era impossível ficar parado. Olhava para os lados e via todos sorrindo e dançando com a viagem proporcionada pela dupla francesa. Na apresentação, é como se eles mostrassem sua transformação de robôs em humanos. Ao se despedirem, já eram tão humanos que mandaram beijos. Sim, foi igualzinho àquilo que eu já tinha visto/ouvido na internet mas foi emocionante.

Barulhinho Bom

outubro 27, 2006

Anote isso: da próxima vez que você ficar sabendo que acontecerá um Uzyna Cabaré no Teatro Oficina, faça uma forcinha para comparecer. O evento é basicamente uma coleção de pocket-shows dos músicos e cantores que participam do musical Os Sertões, no mesmo teatro. É uma excelente oportunidade para conhecer o talento musical desse pessoal fora do clima sertanejo da obra de Euclides da Cunha, com um clima extremamente bem-humorado e descontraído. É uma festa com muita música de qualidade e um bar improvisado para garantir a cervejinha, só que do lado de dentro do portal mágico do Teatro Oficina, com toda a energia boa que há naquele lugar.

Nota pessoal: tente não depender do horário do metrô, como aconteceu comigo, que fui embora pois estava com amigos que precisavam voltar pra casa. Dói no coração ir embora na metade.

O labirinto do fauno

outubro 24, 2006

Não sei porque, mas toda vez que via o nome do filme pensava “ué, mas agora ele é diretor?”. Quem dirigiu “O labirinto do fauno” foi Guillermo del Toro. Então tá explicada a confusão com os nomes. Ele é da safra atual de diretores mexicanos, que conta também com os expoentes Alejandro Gonzáles Iñárritu e Alfonso Cuáron.

O filme é uma fábula cheia de alegorias, mitologias e monstros. Se fosse resumi-lo em uma frase, seria “quando Harry Potter vai à guerra”. Sim, porque todo o mundo de magia existe em conjunto com a guerra civil espanhola. Ofelia, uma garota de dez anos, vai com sua mãe grávida ao encontro de seu padastro, militar das forças franquistas, pois ele deseja estar perto quando seu filho nascer.

Ofelia é leitora ávida de contos de fadas e acredita na existência desses seres. Num dia, ela entra no labirinto que existe ao lado da casa onde está com sua mãe, o padastro e os militares e encontra um fauno, ser mitológico meio homem e meio animal. Ela fica sabendo que é uma princesa, mas que para voltar ao seu mundo tem de passar por três provas. Essa é a senha para conhecermos todo tipo de coisa nojenta e surrealista que pode viver junto das fadas.

É interessante peceber que em nenhum momento podemos ter certeza se os acontecimentos do outro mundo são reais ou se são apenas fruto da imaginação da garota. Pode ser que ela realmente seja uma princesa, mas também pode ser que, como em “A vida é bela”, ela apenas esteja fantasiando numa tentativa inconsciente de ignorar a guerra. No filme de Roberto Benigni o pai cria um mundo diferente para o filho, enquanto aqui a própria Ofelia se encarrega do trabalho — baseada em tudo que já leu.

Esse é um tipo de filme bastante específico, daqueles que você pode não gostar pelo simples fato de não se interessar por histórias infantis. Os personagens humanos são fracos, como era de se esperar de uma fábula, mas algumas das criaturas fantásticas são muito boas. E a censura é dezoito anos, veja só. “Crônicas de Nárnia” é um péssimo exemplo de filme-fábula, ao contrário deste “El laberinto del fauno”.

(O prêmio de destaque na exibição vai para a senhora que se sentou na fileira da frente. Em dado momento, a garota ao seu lado viu as horas no celular. Levou um grito na orelha: “a luz do seu celular me incomoda”, esbravejou a senhora. Em seguida, não satisfeita, bateu na menina com sua bolsa. Foi tranqüilizada com gritos que pediam silêncio.)

Indisponível

outubro 23, 2006

“Vou comprar ingresso pra sessão tal da Mostra via internet… Não vou conseguir chegar lá muito antes e com certeza vai esgotar. Vejamos.”


Indi… o quê?

Outros filmes deste sábado

outubro 22, 2006

Deus e o diabo em cima da muralha
“Mais um filme sobre o Carandiru”, disse Tocha Alves, diretor. Agora a visão apresentada é a dos empregados, que neste documentário contam suas impressões sobre a vida na cadeia. Bacana. Claro que o Doutor Dráuzio Varella está lá também, ouvindo as histórias interessantes do pessoal da administração penitenciária.

O sarcófago macabro
Bem-produzido e animadinho. O filme traz a história da mumificação de Hitler e sua vinda para a Argentina. Dizem que ele ainda vive com nosos hermanos. Tem até o maestro Júlio Medaglia nessa brincadeira filmada por Ivan Cardoso.

Olhe para os dois lados
Seguindo a escola dos independentes americanos, mas é australiano. Tem gente que é obsessiva e sempre pensa no pior. Na verdade, tem dias que você acha que vai morrer. Os personagens da Sarah Watt pensam freqüentemente nessa possibilidade depois de viverem momentos de inflexão em suas vidas.

São, claro, típicos personagens de um filme independente americano. Problemáticos, pensativos, observadores etc. Entre um e outro jogo de críquete, rende risadas e vem com aquela chuva básica para refrescar e purificar. Aliás, o artifício da chuva é usado com bastante freqüência quando o diretor/roteirista não sabe o que fazer. De resto, o sotaque australiano é meio estranho e eles dizem “bloody hell”. Gostei.

O céu de Suely

outubro 22, 2006

O nome dele é Karim Aïnouz. Apesar disso, é brasileiro do Ceará. Seu primeiro filme, “Madame Satã”, foi bem recebido e agora Aïnouz está lançando o segundo, “O céu de Suely”. Antes do início da sessão, ele contou que depois de “Madame Satã” decidiu fazer um filme menos urbano, meio que ao ar livre. O resultado foi belíssimo.

Belíssimo desde o começo, com imagens da protagonista Hermila/Suely brincando com seu namorado Mateus e narrando sobre sua gravidez. Ela decide sair de São Paulo e voltar para sua cidade-natal, no interior do Ceará, e fica à espera do amado. Como era de se esperar, ele não vai. Hermila fica muito desapontada, precisa de dinheiro para fazer algo da vida e resolve rifar o corpo.

Por vinte reais a pessoa concorre a “uma noite no paraíso”. Uma receita explosiva: moradora vai para a cidade grande, volta para o sertão com um filho e vende o corpo. Cidade do interior, machista e conservadora por excelência, não combina com moça vinda da metrópole. Em certo momento, a mãe de Mateus explica para Hermila porque ela não deve ficar com raiva por seu filho tê-la abandonado: “Ele é um moço de vinte anos”.

Alguns momentos de silêncio, cenas extremamente bonitas e cores. Há sempre uma imensidão azul do céu e algumas nuvens contrastando com o alaranjado da terra, resultando em planos lindos. E Hermila, que agora se chama Suely, diz que não é prostituta pois não vai dormir com todos. Fez a rifa para dormir com apenas um homem.

Ela volta mudada, com pelo menos um resquício visível da vida na capital, pois seu cabelo bicolor chama atenção na pequena Iguatu. Suas amigas e o cotidiano da cidade continuam os mesmos e inclusive fica uma certa sensação de ingenuidade na vida daquele local cujas poucas influências externas são mostradas através das músicas americanas em versões brasileiras. Como se a protagonista fosse agora um corpo estranho, ela se vê obrigada a sair da cidade e voltar para o Sul.

Os dois filmes de Karim Aïnouz são dos melhores nos últimos anos e ele comprova que é a maior aposta entre os novos cineastas do país. Este “O céu de Suely” é mais que recomendado.

30ª Mostra Internacional de Cinema

outubro 21, 2006

Porque eu gosto

1. Vejo filmes ótimos antes de estrearem no circuito.
2. Vejo filmes ótimos que nunca vão estrear no circuito.
3. Aquela coisa de correr de uma sessão pra outra.

Porque eu não gosto

1. Filmes em horários bizarros.
2. Filmes em dias bizarros.
3. Cinéfilos desocupados que esgotam sessões horas antes.

Lê a imprensa

outubro 19, 2006


Não quero ficar batendo na mesma tecla, mas me parece que a Editora Globo tem sofrido de uma crise criativa fortíssima. Outra capa para “o que você pode fazer pelo mundo”? Mais uma vez inspirada na Vanity Fair, agora com a Época copiando a foto usada na capa da publicação americana. Depois vou inventar uma série de manchetes com o tema “salve o planeta” para cada uma das revistas da Globo.

Aquela velha discussão

outubro 19, 2006

A Associação Brasileira dos Produtores de Discos (ABPD) anunciou que iniciará processos contra vinte usuários brasileiros de softwares para troca de arquivos. A ofensiva mundial começou na Federação Internacional da Indústria Fonográfica (IFPI). “Queremos combater o roubo do direito autoral e promover o legítimo uso da música pela internet”, disse seu presidente, John Kennedy.

Paulo Rosa, diretor da ABPD, contou que a intenção é educar pais e filhos sobre a pirataria de música na internet. “As pessoas têm que entender o que é direito à propriedade. Não vejo diferença entre a pessoa que troca arquivos gratuitamente pela internet e outra que entra numa loja e rouba um CD”, falou Kennedy. Pelo jeito, o objetivo é educar mesmo, já que as pessoas “têm que entender o que é direito à propriedade”. Somos todos uns ignorantes e ladrões.

O faturamento das gravadoras brasileiras caiu pela metade desde 2000, segundo a IFPI. Rosa explicou que o aumento das vendas de computadores e o crescimento do acesso à internet por banda larga contribuem para o fato. Provavelmente ele também acha que uma solução eficiente é a proibição do uso de computadores.

Agora a IFPI quer que os usuários baixem suas músicas apenas através dos 350 sites considerados legítimos, sendo que dez deles atuam no Brasil. Engraçado. Há alguns anos a mesma IFPI dizia que baixar as canções era um crime, que a única forma legal de se conseguir as faixas seria comprando o CD etc. Os tempos, pelo jeito, mudaram.

É fato sabido que os artistas não ganham tanto com as vendas de CDs. O faturamento fica, em sua maior parte, nas gravadoras e os músicos levam a grana quando fazem shows. Portanto podemos considerar falácia a idéia de que comprando música legalizada nós estamos ajudando o artista. Isso só é verdadeiro quando vamos ao show do cara.

Você pode se perguntar sobre as pessoas que trabalham na produção dos discos. Eu respondo que eles encontram trabalho também quando o artista produz um CD de forma independente. Ou posso mudar o discurso fazendo outra pergunta: o que aconteceu com os trabalhadores das fábricas de vinil? Ah, foi a evolução tecnológica, não é mesmo?

Parece ser muito difícil para as gravadoras entenderem que seu modelo ficou pra trás. As pessoas não querem ser obrigadas a levar dez músicas que não são de seu interesse para ficar com apenas duas ou três que acham boas. Antes isso não era claro pois não existia outra opção e, veja só, tudo era ótimo. Não era? Talvez para aqueles que tinham dinheiro para comprar os CDs.

Outro ponto interessante a se discutir é a influência que a distribuição de música na internet teve para a divulgação dos artistas. Hoje conheço muito, muito mais bandas que há anos atrás. Sem o MP3 eu jamais teria ouvido metade dos produtores de música eletrônica que ouço. Talvez ficasse à mercê dos gostos (bastante duvidosos) das gravadoras. E talvez seja isso mesmo que elas sempre tenham defendido.